Minha cidade tem vários recantos, pequenos pedaços, pequenos momentos. Cada lugar conta sua história, uma coisa pequena, uma parte ínfima daquilo que faz o todo da minha vida. Um quintal de terra, com suas plantas úmidas e o cheiro forte de água, meus pés, mesmo pequenos, já se enfiam na terra pra perceber o frio da terra e imaginar o grande pequeno mundo, com todas as mais fascinantes histórias que minha mente infantil pode criar. Minhas mãos acompanham o contorno suave do aço escovado do corre-mão da escadaria de mármore, já gasta, muitos pés passaram por ela, e o cheiro mofado do elevador Schindler acompanha-o enquanto ele sobe e desce, faz ranger suas engrenagens e sua graxa passa e repassa por seus cabos. No fundo quero ver os papéis, largados, soltos pelo balcão, sem classificação, sem ordem. Os trens passam rápido e levam os papéis, seus trilhos cantam ao perceber a pressão exagerada das rodas, forçando passagem por onde mal há atrito, o grito estridente do metal, o vulto incess