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18/03

Pelo que tenho que sofrer? Parada no quarto? Jamais! Eu grito e esperneio, faço o mundo saber pelo que vivo e mais ainda, pelo que sofro. Não posso passar a tarde em casa sem uma fotografia: uma exposição desnecessária. Abaixo para pegar panelas e está publicado, todos vêem, me cutuca. E peorque estou magoada, canso e aparento ser uma figura esqualida. Ocorre que depois da sua partida, eu fiquei vazia, de corpo (e alma)? Eu vivo nessa terra estranha, e o que eu posso pensar dessa gente que não me quer bem? Só posso parar de comer e meu corpo fica mais saliente. Veja, a curvatura das minhas sobrancelhas não acompanha o contorno da minha testa. Isso é absurdo, abusivo, subversivo! Fugi mesmo, não aguentava ouvir aquele barulho, aqueles passos, buzinas, gemidos, helicóptero, hálito, sexo. Não suportava mais ter que conviver com isso, e logo sabia: precisava fugir. Encontrei gente pior. Pior que eu mesmo. Vivo da caridade alheia. Perdi o interesse, o fogo vital. Perdi a vontade de amar, a

11/06

Eu vou dizer, não aguento o calor de Paris. Nessa época moderna, as coisas estão todas invertidas. Onde já se viu, ficar suando no Champs Elisée? Antigamente quando a gente queria calor, ia pro Caribe. Lógico, praia e gente bonita! Até que explodiu a Revolução Cubana... Ai que desgraça! E veja só, que tristeza... eu posso até dizer com riqueza de detalhes, mesmo porque eu estava tranquilamente sentada num bar charmosíssimo em Havana, estava tomando uns 'drinks' maravilhosos que um tal de Antonio, empregado do hotel que eu estava hospedada, me fez; e até estavamos num affair muito interessante quando resolveram que tinham que derrubar o governo. Ah, que desgraceira. Eu até entendo, derrubar o governo é maravilhoso, uma delícia, eu mesma participei da Revolta das Barricadas em Paris, estava um luxo só!!! A gente não conseguiu derrubar o governo, mas pelo menos bebemos muito Whisky... Ai como foi engraçado! Mas o que importa é que depois disso, o Caribe nunca mais foi o mesmo. D&#

14/03

Quando vi aquele vulto, me deu um calafrio, uma coisa tão má. Largada no sofá, já não tinha vontade de comer, pra que? Engordecer! Chateada com a vida, que me foi grata, que me foi ingrata, que me foi vivida. Porque eu ainda posso ver, o vulto na escada? A sombra do meu amor, que foi e vem, que me persegue e me arranca os cabelos, rasga minha pele, beija minha boca, meus dedos, meus medos. Mas eu não posso mais olhar, porque não posso mais sentir aquele salivar. Mas ainda está, parado na sacada, estanque na cozinha, ouço a voz dele. Nosso verão de correr sutil, de calor forte. Ficamos juntos, um minuto sequer, tocamos os ombros vivemos as lágrimas e rimos as pencas de todas as cores, frutas e texturas. Porque eu nunca pude te tocar do jeito que eu mais sonhei, do jeito doce que minha alma sempre quis, do jeito manso que meus pensamentos sempre pediram? Te toquei com o fogo santo que ainda sobe minhas veias, que fecha meus poros e abre os trabalhos para a porta de entrada, onde nós fica
A grande vantagem é a pior desvantagem deste lugar. Não sei mais a quem recorrer, ou ao que fazer, ou pra que fazer. Cansado das mesmas dificuldades, os mesmos muros, barreiras colocadas a minha frente. Realmente, dizer NÃO, é o que falta na minha vida. Sempre fui solícito, gosto do meu trabalho e das pessoas que me cercam, mas no fundo, tudo que está ao meu redor, ainda preenche muito a minha vida. Estou com falta de vazio, falta de mim mesmo. Pra que acumular o tempo, as coisas, as vontades, se no fim... tudo é vaidade... O tempo de correr está muito longo, preciso do tempo de andar e finalmente, do tempo de parar. Porque há tempo para todas as coisas debaixo do sol, começo a questionar, qual o tempo que eu preciso para fazer aquilo que me é dado. Isso me leva a pensar, o que me é dado? O que eu me presenteei e por isso ocupo meu tempo? Sou um caco, um pedaço, uma coisa informe que vive fora do meu tempo na falta de sintonia com meus pares e com as pessoas ao meu redor. Sempre fui, e

Guilty

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Um dia daqueles, sabe... aqueles dias que você para e olha para si mesmo, contempla a majestade da criação (err, não). Eu olhei para mim, e vi a incompetência personificada. Sabe, quando você tem aquelas sensações... sensação de assalto iminente, de risco, de desgraça, de chuva, de atropelamento... aquelas sensações que predizem o futuro; pois bem, tive a sensação que eu fazia, fazia, fazia e nada fazia. Já disse, volto a repetir, a pior decepção é aquela que você tem consigo mesmo... Pois estou decepcionado comigo, é triste, muito triste. Sinto que eu não sei fazer as coisas, sabe, tudo que eu faço é realmente, ínfimo, pequeno, chato oO. Não sou bom, em nada, entende... isso me incomoda. Não sou bom no meu trabalho, não sou bom na minha escola, não sou bom na minha casa, não sou bom com meus amigos, não sou bom com meu amor. Pronto, não sobrou nada! Só resta me conformar em dizer que eu sou bom em dormir, coisa que, se pá, estou fazendo mal também. Me sinto um H. J. Simpson. Sabe, pe

Ótima Aula

#1 Pelos quais pode fazer, Como pode respirar, Sentir, ouvir, cheirar. Como espinho na flor, Sangra e sofre, Ainda é flor. Seu perfume exala, Sua majestade desajeitada, Seu amor se nota. #2 Ah, o chorar, 'Pois qual o que ferir, ferido será'. Ferido está, Moribundo, sôfrego. Sozinho? Sua dor é dupla, Sua pena é dobrada, Seu amar é infinito. #3 Do ato cai a semente, Do fato nasce a folha, O negócio é seu perfume. Do galho caído, Sobe a folha, No chorar ela é forte.

Insone

Não que eu queria, Porque é contra-senso, É anti-natural. Não durmo, pois não quero Não consigo, pois não tento Não sei, pois! Bem sinto, porque me é suficiente O que jamais puder ser medido Nada poderá desgastar Meu momento, Seu olhar, Meu amar.