18/03

Pelo que tenho que sofrer? Parada no quarto? Jamais! Eu grito e esperneio, faço o mundo saber pelo que vivo e mais ainda, pelo que sofro. Não posso passar a tarde em casa sem uma fotografia: uma exposição desnecessária. Abaixo para pegar panelas e está publicado, todos vêem, me cutuca. E peorque estou magoada, canso e aparento ser uma figura esqualida. Ocorre que depois da sua partida, eu fiquei vazia, de corpo (e alma)? Eu vivo nessa terra estranha, e o que eu posso pensar dessa gente que não me quer bem? Só posso parar de comer e meu corpo fica mais saliente. Veja, a curvatura das minhas sobrancelhas não acompanha o contorno da minha testa. Isso é absurdo, abusivo, subversivo! Fugi mesmo, não aguentava ouvir aquele barulho, aqueles passos, buzinas, gemidos, helicóptero, hálito, sexo. Não suportava mais ter que conviver com isso, e logo sabia: precisava fugir. Encontrei gente pior. Pior que eu mesmo. Vivo da caridade alheia. Perdi o interesse, o fogo vital. Perdi a vontade de amar, a vontade de te ter, a vontade de transar. Sério, quem te viu, quem te vê, [...] quem não a conhece? [...] Ver pra crer. O trabalho me ajuda, me traz a lembrança da música que me acompanha o suspiro. Sério, viver sem vontade, é triste.  Mas continua, corre, finge, diz, fala, espera. Respira porque a loucura é perene tanto quanto  o sorriso não é eterno e a tristeza subjetiva.
Cecília Camargo
18/03/1994

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