Pensar, na Fé
Quando escrevemos um texto é porque estamos pensando em algo. E, sinceramente, tenho pensado em muitos 'algos' nos últimos tempos. Entenda o fato de que uma revolução transformadora de opinião aconteça, essa revolução foi iniciada só pelo fato de saber que eu penso.
Acho que já faz algum tempo que eu me excuso de prestar respostas quanto a minha religiosidade. E também é verdade que também faz algum tempo que eu desejo escrever sobre ela, principalmente para observar de um ângulo diferente(o ângulo de um leitor)o que é que se passa em minha cabeça.
Minha origem é protestante, digamos isso para mantermos o nível. Na realidade, esse é o primeiro tema: o que é ser protestante, o que é ser evangélico, o que é ser crente, o que é ser cristão. Aprendi com os textos científicos que não posso deixar de explicar nenhuma destas definições, sob o risco de ser mal compreendido.
Primeiro, protestante, é, por definição, aquele que protesta. Até então, as pessoas, no Brasil acham que protestante é sinônimo de evangélico. Já eu entendo que o protestante é um signatário de uma dissindência cristã católica. O mais importante, para mim, é que o protestante é, em primeiro lugar dissindente, conceito importante para a continuidade do pensamento.
Evangélico, não é: sinônimo de protestante. É aquele que segue o evangelho, e extritamente o evangelho, desconsiderando totalmente que deve-se, por via de força divina, seguir os preceitos do Antigo Testamento. Sendo assim, muitos poucos dos que se dizem evangélicos podem continuar sustentando sua denominação. E além do mais, o termo não designa um certo evangelho, como o de S. Lucas ou de S. Matheus, portanto somos levados a crer que tal pessoa deve seguir, também, o evangelho de Judas Iscariotes.
Crente, ou, como vulgarmente gosto de chamar: 'crenti'. É aquele indeciso entre ser protestante e evangélico. Uma pessoa totalmente manipulável, que, como o nome diz, é crente, e sua crença é sua morte.O notório chefe da Igreja Universal do Reino de Deus, prega, todas as manhãs, sobre a vantagem da fé racional.
Isso me fez pensar.
O que é fé, o que é razão.
Já cansei de ouvir a definição de que fé é a certeza das coisas que não se vêem. Prefiro, fé é a crença naquilo que está além de você. Ao acreditar que realmente existem criaturas extra-terrestres considero que você tem fé em tais coisas, pois estes organismos estão além de você. Ao acreditar que o seu amigo de infância sente o gosto do chocolate do mesmo jeito que você isso é fé. Algo além, de modo extremamente abrangente.
Tenho a fé de que você que está lendo este texto imagina que eu articulei parte da minha razão para confeccioná-lo, ou seja, eu tive que pensar para isso. Razão é pensar, é o exercício do pensamento. Agora, todos os exemplos de fé que eu posso citar nem sempre dependem exclusivamente da razão para que sejam válidos. Talvez eu nunca tenha que pensar no porque acredito em Deus.
O fato de alguém ser, somente e exclusivamente, crente, faz com que ela perca a noção de onde sua crença pode levar ela. Imagine que alguém seja passível de crer em tudo o que ouve (esta pessoa é definitivamente crente) agora pense que qualquer pessoa que seja motivado pela razão, e somente pela razão, tenha contato com este crente. O segundo ente é visivelmente superior ao primeiro, visto o fato de que ele tem o dominato sobre o crente em questão.
De todas estas posições, a mais vulnerável é a do crente, pela excessiva manipulação a que está sujeito. O fato de ser evangélico, sob minha definição, é muito restrito, portanto, é realmente difícil ser exclusivamente evangélico.
Pense agora na maravilha das definições, imagine algo que todo o teórico gostaria de sintetizar, isso para mim é o conceito de cristão. Tens um pensamento da beleza da classificação cristão? Básica definição: Cristão é aquele que tem FÉ em Cristo. E pode ser qualquer cristo, pois em raiz etimológica, do grego, cristo significa Ungido. Vamos nos ater, somente ao que interessa, o cristo que nós cultuamos, isso significa: O Mashiach (messias) Jesus, o Cristo (Credo in [...] Jesum Christum, Filium eius únicum, Dóminùm nostrum : qui concéptus est de Spíritu Sancto, natus ex María Virgine, passus sub Pontio Piláto, crucifíxus, mórtuus, et sepúltus : descéndit ad ínferos; tértia die resurréxit a mórtuis; ascéndit ad caelos; sedet ad déxteram Dei Patris omnipoténtis: inde ventúrus est judicare vivos et mórtuos).
Ser Cristão está acima de toda classificação. Seguir os preceitos cristãos, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento, é um estilo de vida ocidental. Como disse no início, minha origem é protestante, mas de fato, minha família é crente. Filiados inicialmente à uma igreja pentecostal (não comento para não instigar mais delongas do que já me prolongo), e hoje, cada um à sua maneira, de modo que eu, convencido estou que sou Cristão. E digo mais, não sou rebelde sem causa, porque hoje, muitos, se dizem cristão, para eximir a consciência do peso de dizer que não são religiosos, ou por medo de ir ao tártaro ou por simples repressão da sociedade.
Sou Cristão, Católico. Oh, chegamos onde queríamos chegar. O ponto de atrito (nestas horas acho interessante utilizar-me da recente tecnologia literária, com o símbolo que segue: O_o) Antes de mais nada, aos protestantes, evangélicos, crentes e cristãos: Já tiveram a curiosidade de saber a raiz do termo católico? Pois bem, katholikós(grego)=>catholicus(latim)=>católico=UNIVERSAL. Meu Deus, como pode isso? Simplesmente é mágica! Não, é etimologia.
Os Cristãos primitivos eram divididos de acordo com a cidade em que estava a igreja sede. Provado biblicamente, O Apóstolo de Cristo, S. Pavlo, envia inúmeras cartas às igrejas: Corinto, Esmirna, Laodicéia, Filipo, Jerusalém. Mais adiante, com ocasião da morte de todos os apóstolos, a autoridade eclesiástica passa a ser regional, então surge a figura do Patriarca.
Cada uma das igrejas primitivas tinha o seu respectivo patriarca, ao contrário do que muitos pensam, Roma não era o patriarcado mais poderoso, este era o Patriarcado de Alexandria(sei disso graças ao Prof. Dr. Helcio Maciel França Madeira, Direito Romano serve para alguma coisa!). A esta época o Império Romano não havia adotado a religião cristã como oficial.
Com o advento do eminentíssimo Imperador Constantino os cristãos entraram na legalidade. Então o Patriarcado de Roma foi elevado à categoria de principal. Os cristãos, independentemente de qual patriarcado pertenciam eram denominados católicos, pelo caráter crescente do movimento religioso o qual pertenciam, por não haver dissindentes, eram chamados católicos. Existia uma universalidade, um catolicismo, no fato de ser cristão.
Anos e anos depois, com a queda do Império Romano do Ocidente, surgiu a primeira dissindência cristã, os Cristãos Arianos(não tem nada a ver com Hitler e a raça Ariana, são seguidores da doutrina do bispo Arios, por isso Ariano). Eram basicamente os bárbaros germânicos. A predominância dos patriarcados originais fizeram cair este grupo. Somente anos depois, surgiria a figura de Martinho Lutero e sua revolução religiosa.
Lutero, não é escuso de ninguém saber, foi um cristão um tanto confuso, e extremamente irritadiço com o pecado. Acho eu, que ele nunca superou o fato de ser um pecador e não haver remédio para esta sua natureza. Não ache você que eu sou conformado com a natureza pecaminosa do homem, acontece que eu simplesmente entendo que o homem peca. E sou muito feliz pela existência do perdão e absolvição divina. Ele precisava achar um culpado para toda esta irritação, e foi na igreja católica romana que ele destilou este seu veneno.
Agora, não nego, que após os primeiros momentos, em que a raiva e toda excitação inicial passou, estudando com mais paciência, os preceitos de Lutero. Ele tem razão em criticar a igreja católica romana da época, não mais tão santa. São circunstâncias histórias diversas, entendo em meu íntimo as motivações de ambos os lados, mas isso é tema para outra conversa. Retomando Lutero, suas teses sobre o pagamento de Indulgências e a prática das Relíquias são todas procedentes, só para citar as mais proeminentes, outras tantas são coerentes.
Porém, hoje, o momento histórico e outro, e a posição da igreja católica é extremamente mudada. Podemos chamá-la de Igreja, e não mais de Estado. Por estes motivos iniciais sou forçado a reconhecer que, no contexto atual, a minha razão me leva a ter fé. E, de certo modo, concordo, então, com o líder da Igreja 'Católica' do Reino de Deus. (e que fique bem claro que minha concordância com ele é condicionada e jamais será extendida a quaisquer outros pontos além deste, e extritamente este).
São Paulo, 08 de maio de 2009
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