Noite Fria
Noite fria de inverno, chuva torrencial bate a minha janela, e o vento sopra no telhado. Estou sentado no meu sofá branco, e afundado nas suas almofadas. A luz está apagada, e somente o tremular da chama da última vela acesa no candelabro ilumina o pequeno aposento. Deitado posso perceber a silhueta do piano que está fechado, vejo ainda os meus papéis e anotações dispersos pelo chão.
Naquela noite eu não queria ninguém. Somente eu e minhas lágrimas, nada mais. Um copo de vinho repousa abaixo de mim, em cima do tapete de pelo que cobre o chão. A estante, cheia de livros, parece menos convidativa que os outros dias. Eu sei que não quero ler, não quero ver, não quero sentir, só quero estar. Estar deitado.
No rádio, Fernanda Takai, tocava melancolicamente. E minha vista ficava embaçada, não podia mais conter a água em meus olhos, e ao doce tocar do Steinway entrava em meus ouvidos. A melodia penetrava minha alma, e minha mente já não estava mais no meu corpo.
Deixei de gritar, deixei de comer, deixei de beber, deixei de falar, deixei de andar, deixei de amar, Deixei de viver.
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