Capítulo II – Meu Manuscrito

19 de novembro de 1988
Você já deve ter percebido que eu moro em uma pequena cidade do interior. Mas não pense que sou de um estado qualquer. Moro no estado de São Paulo. Aqui em Vitória da Boa Vista as coisas são ínfimas como a população. Somos dez mil habitantes, imagine o município nem existe.
Comecei a escrever sob ordem de mamãe, não tenho certeza do que este escrito será. Não sei se será diário ou um romance qualquer. Veremos quando eu terminar. Bom, acho que comecei como romance. Estou escrevendo contando que alguém leia, acho que é falta de consideração para com os leitores ignorar a existência deles. Seria grosso de minha parte.
Decidi começar com a carta que origina tudo isso. Josué é meu amigo de infância. Crescemos aqui. Naquela época eu morava na Rua de Baixo com meus pais. Ele era meu vizinho e nossos pais eram compadres, é uma amizade que herdamos de nossos pais.
Dona Brígida e Seu Marcos, pais do Josué, são meus padrinhos e meus pais são padrinhos do Josué. Fomos dois inseparáveis. Estudamos juntos no Grupo Escolar D. Emília Ribeiro e lá fizemos as maiores travessuras que já se tem notícia.
Por uma vez colocamos um rato dentro do escritório da Senhora Bárbara, a diretora. E saímos para fazer uma travessura qualquer, decidimos jogar uma bomba no banheiro. Fomos pegos, de propósito, e levados para a sala da diretora. Como ela ainda não tinha chegado ficamos a esperar. Quando ela chegou e nos viu sentados na saleta que fica antes da diretoria já nos chamou para o escritório perguntando o que havíamos feito.
Ela abriu a porta e quando viu um enorme rato em cima da mesa dela descarregou uma enorme sinfonia de gritos e palavrões. Saiu desabalada pelo corredor e só voltou no dia seguinte. Após uma lavagem da escola toda.
Quando chegou a hora de escolhermos uma profissão fomos unânimes. Os dois queriam ser padre. Apesar das travessuras e desgostos naturais, éramos muito devotos e nossa vida era ir até a Igreja da Sé ficar no encalço do Padre Andrade, que virou Monsenhor. Fomos coroinhas e todas as noites fazíamos a leitura da bíblia, em português e em latim. Pagávamos nossas promessas e cumpríamos nossas penitências rigorosamente.
Mas o destino fez por nos separar. Eu sou dois anos mais novo que Josué. Ele entrou no Seminário de Santa Rita de Cássia, que fica em Boa Vista. Mas ao terminar o primeiro ano, os pais de Josué se separaram e ele foi morar com a mãe em São Paulo, mesmo assim continuou os estudos no Seminário de São Bento. Um ano depois entrei no Seminário e vou me ordenar no mês que vem.
Estou feliz que agora Josué voltará para Boa Vista. Já até imagino ele no altar da Igreja da Sé. Ela é a maior igreja do município, em estilo barroco tem duas torres e é cheia de adornos, comparam ela com as igrejas de Vila Rica. Não vejo a hora de Josué chegar.

Comentários

Bug disse…
tbm nao vejo a hora do proximo capitulo i.i

isso da um belo livro!

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