Vermelho, estava vermelho.
Naquele momento eu estava em paz com Deus e o Mundo. Nada poderia me separar daquela incrível sensação que invadia a minha alma. Estava voando. E tinha grandes asas com penas brancas que trepidavam sob o vendo que cortava meu rosto. Me senti feliz, e completamente compreendido pelo mundo que me cercava. A vil realidade estava longe de mim.
E como se em um momento sublime de inspiração eu chegava até as maiores alturas e subia até além das nuvens. Estranhei, estava ficando quente, minhas asas transpiravam e meu coração batia mais forte. Nada parecido com aquilo, meu rosto ardia como se estivesse em meio a fornalhas. Meus olhos estavam fechados, minha vida se desfez e eu caía das gloriosas alturas que eu tinha alcançado.
Um grande abismo se forma, uma caverna infindável está pela frente e meu corpo está solto pelo ar, sinto as correntes de vento quente que castigam meu rosto. Está ficando cada vez mais quente e não consigo mais ver, meus olhos estão fechados. Quero abri-los, mas não acho forças. Não tenho o que fazer, não tenho a quem recorrer. Só eu posso me salvar, não há ninguém para apelar. Abro meus olhos, a última esperança de vida que me resta e estou exausto. Ainda estou caindo em grande velocidade.
Com um repentino e exaurido tremor que percorre meu corpo abro meus olhos e estou na minha cama, o sol está aparecendo por entre a janela entreaberta do único e pequeno quarto que existe no meu apartamento.
Aí começa minha rotina. Sabe, não que eu esteja me queixando, mas é assim mesmo. Noites pontilhadas de sonhos e um dia exaustivo, é isso que eu faço, é minha vida. Fiquei enrolando na cama até a hora de levantar, virando para lá e para cá.
Quando finalmente o relógio marcou sete e meia levantei-me num forte impulso, só assim eu acordo, e então fui pulando ao banheiro. Liguei minha música, aliás, não vivo sem música, ela faz parte de mim, e, dançando, fui tomar banho.
A parte que mais me toca na manhã é o banho, pois ele define meu dia. Hoje estava cantando Bee Gees, imagine, comecei o dia com ‘Stayin' Alive’. Hoje é dia par, vinte e oito de outubro, dia de lavar a cabeça. Passei meu xampu e saí, escovei os dentes e troquei de roupa. Coloquei uma calça jeans azul e uma camiseta branca estampada, borrifei perfume e arrumei os cabelos. Atravessei a sala e peguei, na mesa de jantar, minha carteira, celular, chaves e fui até o hall do elevador.
Desci os oito andares que me separam do chão e cheguei à portaria para uma pequena conversa com Seu Sebastião, o porteiro. Desde que saí da casa de meus pais para morar neste edifício na Vila Mariana sempre tenho um ‘dedo de prosa’ com Seu Sebastião, não sei por que, acho que todos deveriam conversar com o porteiro de seu prédio, são figuras tão solitárias.
A fome me apertava e o serviço me esperava, então desci ao estacionamento. Lá estava o segundo grande amor da minha vida, meu Peugeot estava estacionado de um modo tal que se destacava dentre os outros. Caminhei até ele, entrei, desta vez quem me acompanhava era Beatles, Lucy in the Sky With Diamonds. Dei a partida e fui até a Vergueiro.
Parei na padaria de sempre, para tomar meu Café da Manhã. Aprendi a fazer a refeição matinal na padaria com o primeiro chefe que tive, desde aquele primeiro emprego, nunca mais perdi o hábito.
Desta vez, me acompanhava Arthur, amigo de todos os momentos, sempre ali, naquele mesmo banco. Arthur tinha a mesma idade que eu, ou quase a mesma, acho que vinte e oito. Sentei-me ao lado dele no balcão e começamos conversa animada sobre a festa do dia anterior. Ele estava feliz, afinal, tinha se arranjado com a Ana.
A televisão estava ligada no jornal matinal e eu pedi o meu eterno chá e pão na chapa. Não gostei muito de lembrar na noite passada, mais uma vez eu e Daniela não nos entendemos, ela insiste na velha história, e não enxerga o quanto a amo.
Arthur me abraçou e disse: O amor é o bolo, ser amado é a cobertura, e sexo é o recheio! Você vai conseguir, ela vai enxergar o belo homem que existe em você.
Nos despedimos e eu fui pegar meu carro, afinal, precisava ir trabalhar. Fiz a minha via sacra, peguei o trânsito nosso de cada dia, ultimamente ele está insuportável, mas hoje eu usei minha arma secreta para sair da triste rotina parada do trânsito. Saquei meu iPod e coloquei Abba, Voulez-Vous acabou com a monotonia do trânsito. Acho que eu era o único condutor a dançar no meio do trânsito.
Cheguei ao centro velho e fui exercer minha atividade de Escrevente junto ao Fórum “Dr. João Mendes Jr.”, pelo menos isso era bom, consegui ser funcionário público.
A tristeza de ontem ainda estava presente, o dia passou como um borrão, minha cabeça estava rodando e as horas passava, os amigos passavam, as obrigações passavam, papéis passavam, a vida passava diante de meus olhos e somente eu e minha mesa permaneciam imóveis.
A hora do almoço chegou, desci. Hoje eu não queria ver ninguém, conversar com ninguém, simplesmente queria almoçar em paz. Escolhi um restaurante longe onde ninguém conhecido poderia me achar, sentei e comi meu prato favorito, arroz, feijão, couve, polenta, frango e torresmo. Senti que tinha voltado às minhas férias em Minas.
Saí para a rua, o trânsito frenético continuava e eu estava parado na esquina do Theatro Municipal, esperando o farol abrir.
Estanquei.
Parei.
Do outro lado, Daniela olhava pra mim. Os cabelos negros estavam voando ao vento, ela estava linda, os amáveis olhos dela estavam fixos nos meus. Não pude desviar o olhar, fiquei a observar a beleza dela. Acho que o tempo parou, mas percebi que foi só para nós dois, o farol já tinha se aberto duas vezes e estávamos parados.
Saí do transe quando ela baixou os olhos, o farol estava aberto, eu poderia atravessar, fui até ela.
Vermelho. Meus olhos estavam borrados de vermelho. Eu estava deitado no meio da rua, Daniela estava do meu lado dizendo – eu te amo, eu te amo, aceito ser sua esposa - eu estava sendo colocado dentro de uma ambulância, um carro tinha me atropelado. Ela veio junto comigo, pedi um beijo. Ela me concedeu, e eu disse a ela que a amava.
Morri.
E como se em um momento sublime de inspiração eu chegava até as maiores alturas e subia até além das nuvens. Estranhei, estava ficando quente, minhas asas transpiravam e meu coração batia mais forte. Nada parecido com aquilo, meu rosto ardia como se estivesse em meio a fornalhas. Meus olhos estavam fechados, minha vida se desfez e eu caía das gloriosas alturas que eu tinha alcançado.
Um grande abismo se forma, uma caverna infindável está pela frente e meu corpo está solto pelo ar, sinto as correntes de vento quente que castigam meu rosto. Está ficando cada vez mais quente e não consigo mais ver, meus olhos estão fechados. Quero abri-los, mas não acho forças. Não tenho o que fazer, não tenho a quem recorrer. Só eu posso me salvar, não há ninguém para apelar. Abro meus olhos, a última esperança de vida que me resta e estou exausto. Ainda estou caindo em grande velocidade.
Com um repentino e exaurido tremor que percorre meu corpo abro meus olhos e estou na minha cama, o sol está aparecendo por entre a janela entreaberta do único e pequeno quarto que existe no meu apartamento.
Aí começa minha rotina. Sabe, não que eu esteja me queixando, mas é assim mesmo. Noites pontilhadas de sonhos e um dia exaustivo, é isso que eu faço, é minha vida. Fiquei enrolando na cama até a hora de levantar, virando para lá e para cá.
Quando finalmente o relógio marcou sete e meia levantei-me num forte impulso, só assim eu acordo, e então fui pulando ao banheiro. Liguei minha música, aliás, não vivo sem música, ela faz parte de mim, e, dançando, fui tomar banho.
A parte que mais me toca na manhã é o banho, pois ele define meu dia. Hoje estava cantando Bee Gees, imagine, comecei o dia com ‘Stayin' Alive’. Hoje é dia par, vinte e oito de outubro, dia de lavar a cabeça. Passei meu xampu e saí, escovei os dentes e troquei de roupa. Coloquei uma calça jeans azul e uma camiseta branca estampada, borrifei perfume e arrumei os cabelos. Atravessei a sala e peguei, na mesa de jantar, minha carteira, celular, chaves e fui até o hall do elevador.
Desci os oito andares que me separam do chão e cheguei à portaria para uma pequena conversa com Seu Sebastião, o porteiro. Desde que saí da casa de meus pais para morar neste edifício na Vila Mariana sempre tenho um ‘dedo de prosa’ com Seu Sebastião, não sei por que, acho que todos deveriam conversar com o porteiro de seu prédio, são figuras tão solitárias.
A fome me apertava e o serviço me esperava, então desci ao estacionamento. Lá estava o segundo grande amor da minha vida, meu Peugeot estava estacionado de um modo tal que se destacava dentre os outros. Caminhei até ele, entrei, desta vez quem me acompanhava era Beatles, Lucy in the Sky With Diamonds. Dei a partida e fui até a Vergueiro.
Parei na padaria de sempre, para tomar meu Café da Manhã. Aprendi a fazer a refeição matinal na padaria com o primeiro chefe que tive, desde aquele primeiro emprego, nunca mais perdi o hábito.
Desta vez, me acompanhava Arthur, amigo de todos os momentos, sempre ali, naquele mesmo banco. Arthur tinha a mesma idade que eu, ou quase a mesma, acho que vinte e oito. Sentei-me ao lado dele no balcão e começamos conversa animada sobre a festa do dia anterior. Ele estava feliz, afinal, tinha se arranjado com a Ana.
A televisão estava ligada no jornal matinal e eu pedi o meu eterno chá e pão na chapa. Não gostei muito de lembrar na noite passada, mais uma vez eu e Daniela não nos entendemos, ela insiste na velha história, e não enxerga o quanto a amo.
Arthur me abraçou e disse: O amor é o bolo, ser amado é a cobertura, e sexo é o recheio! Você vai conseguir, ela vai enxergar o belo homem que existe em você.
Nos despedimos e eu fui pegar meu carro, afinal, precisava ir trabalhar. Fiz a minha via sacra, peguei o trânsito nosso de cada dia, ultimamente ele está insuportável, mas hoje eu usei minha arma secreta para sair da triste rotina parada do trânsito. Saquei meu iPod e coloquei Abba, Voulez-Vous acabou com a monotonia do trânsito. Acho que eu era o único condutor a dançar no meio do trânsito.
Cheguei ao centro velho e fui exercer minha atividade de Escrevente junto ao Fórum “Dr. João Mendes Jr.”, pelo menos isso era bom, consegui ser funcionário público.
A tristeza de ontem ainda estava presente, o dia passou como um borrão, minha cabeça estava rodando e as horas passava, os amigos passavam, as obrigações passavam, papéis passavam, a vida passava diante de meus olhos e somente eu e minha mesa permaneciam imóveis.
A hora do almoço chegou, desci. Hoje eu não queria ver ninguém, conversar com ninguém, simplesmente queria almoçar em paz. Escolhi um restaurante longe onde ninguém conhecido poderia me achar, sentei e comi meu prato favorito, arroz, feijão, couve, polenta, frango e torresmo. Senti que tinha voltado às minhas férias em Minas.
Saí para a rua, o trânsito frenético continuava e eu estava parado na esquina do Theatro Municipal, esperando o farol abrir.
Estanquei.
Parei.
Do outro lado, Daniela olhava pra mim. Os cabelos negros estavam voando ao vento, ela estava linda, os amáveis olhos dela estavam fixos nos meus. Não pude desviar o olhar, fiquei a observar a beleza dela. Acho que o tempo parou, mas percebi que foi só para nós dois, o farol já tinha se aberto duas vezes e estávamos parados.
Saí do transe quando ela baixou os olhos, o farol estava aberto, eu poderia atravessar, fui até ela.
Vermelho. Meus olhos estavam borrados de vermelho. Eu estava deitado no meio da rua, Daniela estava do meu lado dizendo – eu te amo, eu te amo, aceito ser sua esposa - eu estava sendo colocado dentro de uma ambulância, um carro tinha me atropelado. Ela veio junto comigo, pedi um beijo. Ela me concedeu, e eu disse a ela que a amava.
Morri.
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talentoso.